sexta-feira, 17 de julho de 2009

O letal vírus G.

Durante os anos em que fiz meu curso de graduação em Letras fui infectada com o letal e extremamente nocivo vírus G. Este perigoso vírus tem sido transmitido a muitas gerações de professores, especialmente os de português. E vem causando danos irreparáveis a uma imensa parcela de alunos nos quatro cantos de nosso país.
Descubra caro colega, se você também foi infectado por ele e ainda não está diagnosticado. Seus principais sintomas são: aulas focadas em tópicos gramaticais, listagem de certo e errado na língua, listas intermináveis de exercícios, "decoreba" de regras (como por exemplo, a da crase), reprodução da “ladainha” dos modos e tempos verbais, uso do texto para fins específicos de um ponto gramatical, etc. Se você apresenta um ou mais destes sintomas, sinto muito: você também foi infectado pelo vírus G, ou vírus da Gramática.
Não quero dizer com isso, que ensinar gramática é um erro. Tudo depende da sua concepção do que é e de qual gramática ensinar, é claro!
O que quero dizer é que no curso de graduação que fiz, lá no distante século passado, havia transmissão da gramática normativa apenas. E isto causou sérios danos em meu desempenho profissional. Pois muitas aulas meramente gramaticais eu dei. E hoje percebo porque elas, muitas vezes, eram chatas e desmotivadoras.
Mas há antídoto para o vírus G. Só que ele começa a agir lentamente e poderá levar muitos anos para se obter uma cura. No início do tratamento você deverá tomar doses maciças do vírus L, ou vírus da Linguística.
Você deverá recorrer a estes estudiosos e beber diretamente em sua fonte. Ou seja, ler muito. Estudar. Concordar. Discordar. Para com isso mudar! Reveja os Parâmetros Curriculares Nacionais. Pesquise bibliografia na internet. Descubra Sírio Possenti, Marcos Bagno, Ataliba Castilho, Irandé Antunes. Faça cursos de atualização legítimos. Ocupe uma pequena parte de seu tempo extra com isso e você perceberá as mudanças na organização de sua aula e principalmente no interesse dos alunos por ela.
Mudança. Esta é a palavra de ordem. Não teremos sucesso na transformação da escola que todos dizemos querer, se não houver boa-vontade e interesse em mudar. Não adianta modificarmos a parte física da escola e incorporarmos tecnologia, se não houver mudança e principalmente a cura da “gramatiquiece”.
Lembre-se: a gramática aprisiona a língua. Normatiza o que é livre. Claro que ela deve ser ensinada, mas não somente ela. Incorpore em sua rotina de sala de aula outros elementos e os textos que estão na rua, nos jornais, na internet. Faça com que seu aluno participe e sugira assuntos. Descubra seu conhecimento de mundo e seus interesses. Planeje para eles e não para a gramática. Vacine-se contra o vírus G. Você perceberá as mudanças.
(Na fria madrugada de 17/07/2009)

Dia 16/07/09: Falando sobre linguística.


Iniciamos nossa tarde com a entrega e a discussão das primeiras atividades do TP3, que forma aplicadas pelos cursistas em suas turmas. Falamos sobre as dificuldades de alguns alunos em compreenderem as atividades propostas. Também comentamos sobre a facilidade da maioria em desenvolver estas mesmas atividades.
Para que todos entendam a diferença entre a linguística e a gramática, trouxe um vídeo (dividido em 3 partes) do Youtube, com o Profº Sírio Possenti sendo entrevistado pelo apresentador Juca Kfori para um programa do canal ESPN. Nesta entrevista, ele explica claramente e com exemplos fáceis a diferença que existe entre estes dois profissionais e logicamente, nos dá uma aula sobre linguística.
Na sequência da tarde, lemos o texto “Variação e Mudança” também do Profº Sírio. E retomamos as questões abordadas por ele no Livro “Por que (não) ensinar gramática na escola” e fizemos juntos um belo e caloroso debate sobre as questões gramaticais, as listas de conteúdo e de certo e errado e também sobre nosso papel frente a tudo isso.
Um fato é certo, sabemos da necessidade da mudança em nossas práticas docentes. E o GESTAR II está sendo a mola propulsora para isso. Mas sabemos também que as mudanças precisam ter a adesão dos outros colegas que integram o quadro escolar. E em relação a isso, estamos semeando as novas idéias sobre as mudanças que achamos necessárias. Pois desacomodar quem está acomodado em uma situação é bastante difícil. Por isso nossos passos serão lentos e cautelosos neste sentido.
Distribuí para os cursistas o texto “Saber uma língua é separar o certo e o errado?” do Profº Ataliba Castilho da USP, que está disponível no site do Museu da Língua Portuguesa e nos foi indicado pelo Profº Maurício.
Para que os tópicos mais importantes fossem vencidos, visto que o texto é longo e ficaria cansativo lê-lo na íntegra, organizei um PowerPoint para agilizar e fluir as conversas sobre linguística que estavam planejadas para esta tarde. Durante a explanação das lâminas, os comentários, as dúvidas, os questionamentos e as experiências foram aparecendo e sendo partilhadas por todos.
A tarde passou quase que imperceptível. Retomamos a questão do pouco tempo para o GESTAR II que temos neste ano letivo e reafirmamos o propósito de no próximo ano detalharmos o TPs e os AAAs em nossas salas de aula. Bem como a continuidade de nossos encontros quinzenalmente para discutirmos as dificuldades e buscarmos juntos soluções. Creio que o principal objetivo do curso já foi atingido: semear mudanças.
Neste sentido, para finalizarmos nossa tarde, solicitei para as cursistas um texto com as seguintes reflexões:
1- Sua prática em sala de aula está ligada a linguística ou a gramática?
2- Qual destas duas concepções você julga que seja a melhor: a linguística ou a gramática?
3- O que fazer para mudar (se for necessário)?

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Dia 07/07/09: Introdução ao TP4.



Como o tempo está passando rápido. Já estamos com a metade do nosso caminho percorrido em relação as primeiras 40hs do GESTAR II. E agora percebemos que o tempo virou nosso inimigo, pois temos realizado tardes ótimas e muito proveitosas para nosso crescimento profissional.
Já comentamos algumas vezes a necessidade de continuarmos nos encontrando nos próximos anos que virão, independente do GESTAR, ou quem sabe para retomarmos calmamente cada um dos TPs. É lamentável não temos tempo suficiente para dissecar cada um deles. Tudo está muito corrido.
Independente disso, retomamos nossas conversar sobre o filme "Narradores de Javé". Realmente o impacto que ele causou e as reflexões que tiramos dele são plurais e estão modificando nossa visão.
Para introduzir o TP4, fizemos uma discussão sobre "Aprendizagem Significativa" e o que este conceito desperta. Refletimos, buscamos exemplos concretos em nossa prática e diagnosticamos que estamos muito longe na maioria das vezes deste conceito.
E o que fazer para mudar?
Em primeiro lugar, descobrir o conhecimento prévio do aluno. Como? Nos apoiamos no texto da Profª Isabel Cristina Cordeiro da Universidade Estadual de Londrina com o título: "Argumentação e leitura: a importância do conhecimento prévio". E novamente refletimos sobre os tópicos e argumentos dela. Tivemos uma boa discussão e claro, a conclusão é obvia: temos que mudar!!!! Mas não mudar tudo, o que precisamos mudar é a estrutura e a forma de organizarmos as aulas.
Ouvimos também, brevemente as sábias palavras de Paulo Freire sobre a questão do letramento.
De uma forma mais lúdica, busquei o conhecimento prévio das cursistas atarvés do Power Point "Expressões Idiomáticas", fornecido pelo Prof. Mau em nossa formação em Porto Alegre. Muitas risadas foram dadas. Mas conseguimos através desta simples brincadeira despertar nosso olhar sobre as mudanças que precisamos fazer.
Utilizamos um Plano de Aula do site da Revista Nova Escola para exemplificar a "nova" forma de se organizar as velhas idéias, chamado: "Aprendendo a fazer uso da pontuação".
São ótimos exemplos que mesclados aos exemplos e idéias do GESTAR II farão a diferença e trarão as mudanças.
Concluimos a tarde com uma atividade prática da Oficina nº 6 do TP3. E nos despedimos dele. Não totalmente, pois sabemos da imporância que ele tem em nossa caminhada e das várias consultas que faremos a ele na nossa tragetória.
Mas as idéias iniciais do TP4 já estão semeadas. Vamos a partir do próximo encontro trabalhar nestes conceitos e idéias.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Dia 02/07/09: Apontamentos sobre o filme Narradores de Javé.


Em Narradores de Javé, o escriba é o responsável por relatar os fatos ocorridos naquela comunidade. O escriba acaba por imprimir um tom mais formal às historias narradas pela população local; ele confere as histórias uma característica mais rebuscada, própria da diferença da língua falada para a escrita. Por parte de Biá, o escriba, já existe o conhecimento de saber diferenciar o que é um fato acontecido de algo escrito.
Para esta comunidade, pouco letrada, não há diferenciação da linguagem usada na fala pela escrita, acabam por relatar os fatos de um modo mais simples e o escriba tenta apresentá-los por meio de uma linguagem mais elaborada, característica da escrita.
A escrita é de grande importância dentro desse contexto, pois é através dela que se pode salvar o maior patrimônio local: a história, a memória de Javé que está prestes a ser destruída pela construção de uma hidrelétrica. Percebe-se com isso que um povo sem cultura, conhecimento é um povo sem história e é exatamente o que tentam fazer com o povoado de Javé: negar sua história, sua identidade, pois seu povo é simples e não conhece seus direitos.
Até mesmo o escriba questiona sobre quem poderia se importar com a história de uma gente simples, ignorante, que mal sabe escrever o nome. Consequentemente, aponta que a história de Javé não será preservada, pois não conta a história de nobres, mas sim de gente do povo que tenta se engrandecer pelos fatos passados; tampouco pode impedir o progresso.
Outro aspecto a ser mencionado refere-se à questão do ponto de vista, os cidadãos têm pontos de vistas diferentes sobre o mesma história, cada um a conta ao seu modo.Não há uma idéia coesa sobre os episódios, esse elemento mostra que os habitantes não compreenderam a noção do que é científico, real, que pode ser provado.
Um povo sem conhecimento é aniquilado, pois linguagem representa poder, quem domina a escrita tem capacidade de mudar os acontecimentos, defender-se, reivindicar por direitos. Mas o que faz o povo de Javé?E quantas Javés existem pelo Brasil?

Rochele Santos Silva

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Dia 23/06/09: pensando em Letramento.



Iniciamos nossa jornada falando e revendo o video "Estudo errado" de Gabriel, o pensador. Com ele fizemos muitas reflexões. E pensando em nossa prática, planejamos também o que mudar.
Logo após, aproveitamos esta fria e chuvosa tarde de inverno, para pensarmos em Letramento. Apresentei para as cursistas alguns conceitos e reflexões de Magda Soares sobre o tema.
Conversamos, debatemos, discutimos e interagimos com ela sobre Letramento. Mesmo não sendo um conceito novo, ele ainda está muito distante de muitos professores de língua portuguesa.
A importância de nossa atualização real, com conceitos teóricos está cada vez mais evidente. E com isso, comprovamos a importância do GESTAR II em nossa caminhada profissional.
Lamentamos que muitos colegas "de área", não conhecem e desdenham destes novos-velhos conceitos que estamos estudando. Seria muito mais dinâmica a escola se todos os colegas andassem juntos.
Assistimos também um video retirado do Youtube que adapta o poema de Kate Chong e que está no livro "Letramento: um tema em três gêneros" da Professora Magda.
Mais uma vez a questão "listagem de conteúdos" e "é preciso cumprir o programa" surgiram. Estas frases rançosas estão impreganadas nas paredes das escolas. E ecoam a cada momento. Principalmente nos momentos em que as mudanças estão por vir.
No momento mais prático de nossa tarde, utilizamos um plano de aula retirado do site da revista Nova Escola, chamado "Do oral ao escrito" para exemplificarmos como a mudança de nossa prática pode ocorrer.
Viajamos, divagamos e nos divertimos imaginando e planejando atividades. As cursistas criaram seu próprio blog e firmaram o propósito de alimentá-lo o mais brevemente.
Usamos uma parte da Oficina nº 5 do TP3 para finalizarmos nossa tarde.
Mais uma tarde de trocas, de conversas, de experiências partilhadas em nossa caminhada!