quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Por favor, não culpem somente os professores!


Nesta semana de divulgação dos índices do IDEB/2011 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), estou vendo muitas pessoas correrem para a impressa dar explicações de forma precipitada. Peço apenas uma coisa: por favor, não culpem somente os professores! Eles não são o problema, mas fazem parte dele.
Digo isso porque existem muitas políticas públicas nacionais, estaduais e municipais equivocadas e que são sem dúvida, grande parte do “imbróglio” educacional de nosso país. Uma destas questões para mim é a recomendação do MEC para que não ocorra reprovação nos três primeiros anos do ensino fundamental.
Na prática tenho visto as enormes lacunas que esta recomendação está provocando na vida escolar de muitas crianças. Aprendizagens desiguais, de crianças que (por diversos fatores) tem ritmos diferentes, são equiparadas com esta determinação. Isso gera em uma sala de aula, um aluno que lê e escreve cedo e alunos que nem desenham as letras de seu nome na mesma sala. E são todos aprovados, gerando os 65% de pessoas não alfabetizadas plenamente ao final do ensino médio, segundo o Jornal Nacional de 14.08.12.
Outra questão importante de ser discutida é a confusão que existe e transforma em sinônimos as palavras: QUANTIDADE e QUALIDADE.  De forma geral, estou vendo ministros e secretários de educação dizendo que a solução para a falta de qualidade do ensino público é a implementação de escolas de tempo integral. Na prática, isso nada tem haver com qualidade de ensino. Isso é quantidade de tempo, em uma escola pública sem estrutura e com o mesmo corpo docente. Ou seja, mais uma vez a escola tem a QUANTIDADE de obrigações aumentadas, sendo maquiadas para a população como QUALIDADE de ensino e aprendizagem.
Com tudo isso não quero dizer que os professores não tem sua parcela de “culpa” nos baixos ou altos resultados do IDEB. Tem sim, e dentro de suas salas de aula todos tem consciência de seus acertos e erros. Mas se tivéssemos políticas públicas sem discursos eleitoreiros e com metas e formação (ou reciclagem) docente bem definidas, não precisaríamos estar procurando vilões e bandidos nesta hora.
Precisamos ver nossas escolas com lente de aumento, sem interferência política. Com a família e a comunidade, em que esta escola está inserida, presentes na vida escola dos alunos como um todo, como parceiras e não como rivais.

terça-feira, 3 de julho de 2012

Nossas palmas para vocês!!!



Há dois anos trabalhando no NEJA de Itaara, tenho colecionado maravilhosas histórias de superação e de vontade de mudar. Muitos de nossos alunos (cada qual com seus motivos) tiveram que parar de estudar jovens e hoje, buscam com nossa ajuda, mudar através da volta aos estudos melhores condições de vida, melhores salários ou meramente aprender o que não conseguiram anos antes.
E nesta direção de retomada dos estudos e em muitos casos também, de retomada das rédeas de suas vidas, percebemos que o conhecimento de mundo (como já pregava meu querido Paulo Freire!) faz realmente uma grande diferença na aprendizagem de nossos alunos. Um exemplo disso é ver uma mãe e um filho estudando juntos. Ela auxilia e conduz seu filho muito mais sabiamente do que ele a ela!
E nesta busca de subir degraus na vida, recentemente foi oferecido aos nossos alunos de Itaara uma chance de em uma única prova (realizada em Júlio de Castilhos no dia 02.06.12), concluírem o ensino fundamental. Muitos se agarraram a esta chance e os frutos disso duas alunas irão colher em sua plenitude e a grande maioria dos alunos inscritos parcialmente. Por isso: nossas palmas para vocês!!!
 Realmente todos merecem palmas por ter a coragem de resgatar uma lacuna que ficou no passado e terem a coragem (mesmo fora da idade escolar) de buscarem muito mais do aprendizagem, buscarem conhecimento e terem a maturidade de saber aplicá-lo.
            Por isso trabalhar com o NEJA é uma experiência tão gratificante. Nós professores saímos na maioria das noites de lá com um largo sorriso e muitas histórias para compartilhar. Mas hoje a moral da minha história é: vale a pena tentar e vale muito mais a pena ainda, arriscar para buscar o que a vida (ou a imaturidade) fez com que a gente deixasse para trás, a importante e a estimada certeza de dizer EU SEI PORQUE EU ESTUDEI!

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Eram dois


      Eles estavam presos mais uma vez, dentro de sua cabana. Lá eles sonhavam, brincavam e se divertiam muito, mas havia alguns problemas! E quando os problemas apareciam, lá iam eles se emburacar em sua cabana, como se ela fosse um porto seguro, um local onde os problemas não entravam.
      Mas ser gêmeo é um problema! Ainda mais gêmeos idênticos pois quando um aprontava, muitas vezes era o outro que levava a culpa. Mas eles foram levando suas vidas assim...aos trancos e barrancos, mas com muita felicidade e cumplicidade.
      Um dia já lá longe...na fase da adolescência, chegou em suas vidas uma bela flor. E a flor mostrou seu encanto e lançou seu pólem em vários e desavisados corações. E lá estavam eles, mais uma vez em sua cabana enamorados pela mesma flor.
      Então a cabana já estava pequena. Eles insistiam, mas seus corpos, seus pensamentos e seus corações já não cabiam mais naquele espaço. E jovens corações machucados parecem ser maiores do que realmente são. Mas eles não pensavam assim. E na ânsia de manter aquela bela flor em seu jardim, um feriu o outro e o que eram dois virou um só. E só ficou. Sem irmão, sem flor e sem refúgio. Pois sua cabana alegre e segura, virou uma cela fétida e úmida.

domingo, 13 de maio de 2012

E lá foi ela.


 
Munida de lanterna, panos, água e álcool, lá foi ela em direção a parada de ônibus que fica a poucos metros de sua casa e de duas escolas da região.
            Todos os dias ao usar este espaço, ficava indignada com a “sujeira” deixada pelos estudantes: litros e litros de corretivo gastos para registrar mensagens e palavrões, além de muitas canetinhas gastas para este mesmo fim. Ficava chateada ao ver o descaso com os lugares públicos e ficava também com pena dos pais, que compravam material (muitas vezes com imenso esforço) para seus filhos literalmente colocarem fora.
            Mas ela nunca foi uma mulher conformada com este tipo de situação. Ela sempre foi uma mulher de ação. E com este intuito, lá foi ela uma noite e de forma anônima, para a parada de ônibus que diariamente frequentava. Álcool, água, panos e boa vontade foram seus antídotos para pelo menos ali, naquele pequeno espaço, ela pudesse mostrar sua indignação com a situação, limpando aquele local.
            Por quanto tempo a parada de ônibus ficará limpa?
            Que esta pergunta sirva de reflexão para os estudantes que também frequentam este lugar. E que eles adquiram a consciência de que espaços públicos são de todos e não devem ser maltratados. Pois certamente em suas casas e escolas eles são instruídos a não terem esta atitude de vandalismo com o que é público.
            Espero não precisar mais ver aquela jovem mulher repetindo aquele belo gesto anônimo de cidadania e respeito pelas coisas coletivas da cidade onde mora. Espero daqui para frente ter uma cidade mais limpa e muito mais bela com a ajuda e o cuidado de todos.


Bete
Que tu possas servir de inspiração
para muitas outras pessoas!
Com carinho
Lu Mello

terça-feira, 1 de maio de 2012

Icebergs



Trabalhar em educação é como trabalhar no meio de icebergs. Digo isso porque sou professora do ensino fundamental e por mais que existam mecanismos diferenciados para testar a aprendizagem dos alunos, nunca temos a real certeza do que está acima ou abaixo d’água em relação a esta aprendizagem, como os icebergs.    
Fazer uma educação diferenciada que leve em conta a realidade dos alunos e faça uma transformação na sociedade é o ideal de qualquer professor. Mas esta é uma imagem bastante utópica da realidade que o cotidiano de sala de aula apresenta. Por isso, na grande maioria das vezes, nós professores supomos que estamos fazendo a diferença. Mas certeza, nenhum de nós tem! Pois o que está acima ou abaixo d’água, é somente suposição.
Neste desejo de fazer a diferença, nem que seja em alguns momentos na sala de aula, a criatividade do professor aliada ao seu conhecimento supera a falta de recursos e a falta de condições favoráveis que muitas vezes se apresenta dentro das escolas públicas.
E para que todos (professores e alunos) tenham crescimento em seu dia a dia é preciso investimento. Os professores necessitam investir em cursos de aperfeiçoamento que realmente façam a diferença em sua vida profissional. E os alunos precisam investir seu tempo em atividades e atitudes arrojadas e desafiadoras de seus professores. E desta forma descobrir que parte do iceberg está submersa e qual parte está exposta.
Neste viés, passei os últimos dois anos de minha vida profissional acompanhada de um curso de especialização em “Mídias na educação”. Meu investimento foi alto: muito estudo e dedicação, paralelamente a minha atividade profissional. Mas meu retorno está sendo muito grande. Hoje posso dizer que consigo claramente ver os icebergs emergindo d’água.
E como? Aliando a literatura brasileira a tecnologia. Parti da seguinte premissa: se as redes sociais são a forma mais atual das pessoas se autobiografarem, porque não criar uma rede social literária? Com esta ideia na cabeça propus aos alunos a leitura de “Dom Casmurro” e após a leitura a criação de um perfil para os cinco personagens mais interessantes do livro.
Desta forma nasceu o site: perfilliterario.com.br um lugar que após a leitura de livros, os alunos possam criar os perfis de alguns personagens e montar assim, uma rede de perfis literários. Já estão on-line os perfis dos principais personagens de “Dom Casmurro”. E vamos fazer esta rede crescer, com muita leitura e tecnologia.
No site também existem outras sequências didáticas que de uma forma ou outra fazem com que os icebergs apareçam e façam a diferença mesmo que momentaneamente na vida dos alunos.

domingo, 22 de abril de 2012

É possível uma sociedade sem drogas?


Nos milhares de pequenos municípios deste país, conseguimos ver um retrato cruel do descaso do poder público com a população. Três pontos básicos, cheios de promessas durantes as campanhas eleitorais, são os principais pilares sociais esquecidos após o governante assumir seu cargo, são eles: saúde, educação e segurança pública. É ingênuo achar que estas três áreas não estão interligadas. Estão sim, e a cada dia vemos através dos meios de comunicação que a falha em uma, prejudica as demais.
É impossível ter uma boa escola, com alunos doentes e inseguros. E a droga é a principal doença que assola nossa sociedade, nossas escolas, nossas ruas. São diversos e diferentes tipos de drogas. Na minha visão leiga, as classifico em dois tipos: as que matam rápido, como o crack, por exemplo, e as que matam lentamente, como o álcool e o cigarro. Mas todas elas, independente de sua classificação científica, causam danos irreparáveis para a sociedade.
Mas uma vez repito: e os que fazem os governantes para acabar ou amenizar com o problema? Muito pouco. Pois os três principais pilares que sustentam a sociedade estão ruindo. No tipo de município que me referi no inicio do texto, são milhares de habitantes para um efetivo de menos de uma dezena de policiais.  A saúde é tratada com o mal da “ambulâncioterapia”. E em muitos casos a família que deveria proteger é quem inicia os adolescentes no uso de drogas, incentivando e ofertando álcool em suas reuniões sociais.
A escola nestas horas fica pequena, tentando dar conta de todas as novas demandas que surgiram e os novos papéis que seus profissionais foram obrigados a assumir. Lá, dentro dos muros, se tenta driblar a inimiga droga, mas ela é forte e sedutora. Além do que ela está muito disponível nos bares, esquinas e quem sabe, até na casa do vizinho.
É muito difícil vencer um inimigo quando não se está em igualdade de condições. Orientar é a única maneira viável existente até o momento e deste papel as escolas não se isentam. Mas é necessário que drogas, como o álcool e a maconha, deixem de ser alento para muitas pessoas e principalmente para “os/as chefes” de famílias. É necessário que existam clínicas e hospitais que possam tratar as pessoas. É necessário que haja mais repressão aos traficantes. É necessário que as pessoas que foram eleitas deixem de encher suas “malas e cuecas” de dinheiro e passem a investir nos direitos que estão sendo negligenciados para a população.
E voltamos ao ponto central: há vontade política? Creio que não. É possível uma sociedade sem drogas? Dificilmente. É viável uma escola sem drogas? Talvez, com maior apoio das famílias, com um olhar policial mais próximo ajudando a orientar os jovens e com mais profissionais da saúde específicos para um trabalho engajado dentro das escolas e famílias lutando contra as drogas. Sem decretos, sem politicagem eleitoreira, sem “bolsas”. Precisamos de vontade política e não mais de discursos.

quarta-feira, 11 de abril de 2012

O que é o “NEJA”?


Em 2008 foi criado e autorizado o funcionamento do “Núcleo Municipal de Educação de Jovens e Adultos de Itaara”, ou como é mais popularmente conhecido o “NEJA”. E por se tratar de um núcleo de estudos, ele não possui nada de semelhante com o ensino regular. O “NEJA” é um tipo de educação totalmente diferenciada do que estamos acostumados a ver nas escolas diurnas do município.
            Mas é diferente em quê? Em primeiro lugar, o diferencial do “NEJA” inicia pelo seu público alvo. Para cursar esta modalidade a exigência legal é que o aluno possua 15 anos completos na data de sua matrícula.
            Em segundo lugar, o que diferencia o “NEJA” do ensino diurno é que o aluno não frequenta as séries ou anos como no ensino regular. O aluno inscrito na modalidade chamada “fracionado com apoio” frequenta as reuniões de estudo por disciplinas, ou seja: português, matemática, história, ciências, geografia e inglês. Podendo escolher e frequentar de acordo com a disponibilidade de vagas, no máximo duas disciplinas paralelamente. Cada disciplina possui material próprio organizado em etapas e de acordo com as bases curriculares fornecidas pela Secretaria Estadual de Educação.
            Há também outra modalidade de estudo oferecida pelo “NEJA” que chama-se “fracionado com programa”. Nesta modalidade o aluno faz seus estudos em casa de forma autônoma e independente de acordo com um conteúdo programático oferecido pela escola. Sua presença só se faz necessária nos dias em que o aluno estiver apto a realizar as provas das disciplinas estudadas e que tenham sido agendadas previamente sempre as segundas-feiras.
            Estas duas formas de estudo proporcionam ao aluno mais agilidade na recuperação do tempo perdido em seus estudos regulares e a busca do término do ensino fundamental, totalmente amparada pela legislação educacional vigente.
            O terceiro ponto que diferencia o “NEJA” do ensino regular acontece na modalidade “fracionado com apoio”, ou seja, na modalidade que o aluno frequenta semanalmente as reuniões de estudo para buscar apoio e tirar dúvidas da matéria diretamente com o professor da disciplina. Esta diferença acontece basicamente em relação ao número de vagas disponibilizadas que são de 5 (cinco) por turma.
            O número limitado de vagas acontece em função das turmas do “NEJA” serem consideradas classes multisseriadas. Isso significa, por exemplo, que em uma turma de português, podemos ter todos os cinco alunos em diferentes e diversos pontos da matéria que está dividida nos polígrafos. Afinal os alunos desta modalidade ditam seu próprio ritmo de estudos, o que impossibilita ao professor dar uma aula igual para todos. As aulas nesta modalidade são totalmente particularizadas e diferenciadas do ensino regular que estamos acostumados a acompanhar nas escolas diurnas.
            Em função da grande procura por vagas, a lista de espera nesta modalidade é um pouco elevada principalmente no início do ano letivo. Neste sentido, alguns horários de professores foram ampliados e alunos que estão com baixa frequência são constantemente consultados para a liberação e abertura de novas vagas. Com estas ações, o “NEJA” procura a diminuição do tempo de espera dos alunos por uma vaga.
            Outra particularidade do “NEJA” acontece sempre na primeira quarta-feira do mês. Nela os professores encontram-se em reuniões de estudo para planejar suas ações, compartilhar experiências e aprimorar seus conhecimentos pedagógicos.
            Se você se enquadra no critério de idade e possui vontade de retomar ou de acelerar seu processo educacional, venha conhecer o “NEJA”. Atendemos de segunda a quinta-feira das 18:30 até 20:50, nas dependências da E.M.E.F. Euclides Pinto Ribas.

Profª Luciana Mello da Silva Mello